Fala galera, sou Marcio Gomes, do projeto Against The Time e venho dar algumas dicas que uso referente a produção de música eletrônica, especificamente sobre Techno. Não vou adentrar na parte de mixagem e equalização, apenas um pouco do meu processo criativo.

Ressalto aqui a importância de se criar uma base consistente antes de começar a trabalhar no arranjo da track, acho fundamental testar varias coisas até encontrar a que melhor se encaixa na proposta, pra sim, depois começar a “esticar” o arranjo. Pode parecer bem óbvio, e realmente é, mas é muito importante para que você não perca tempo depois trocando timbre de hats, claps e coisas que atrapalham o workflow e o processo criativo.

Não tenho uma ordem fixa de workflow, vou montando a estrutura de acordo com o que estou sentindo na hora, as vezes começo com kick depois baixo e synth, as vezes monto a linha de bateria primeiro…

Primeiramente, gostaria de abordar como trabalho com minha linha de bateria. Eu não tenho uma drum machine e creio que a grande maioria dos novos produtores também não, então trabalho com bank de samples e a primeira coisa que se deve priorizar nisso são samples de qualidade, procurem comprar packs com qualidade alta, por que isso tem grande efeito na track.

No processo de criação de uma linha de hats, por exemplo, costumo sempre variar bastante, seja no desenho e velocity/volume (figura 1), como das notas, como também criando muitas automações pra que não fique monótono, sejam elas de pitch, delay, reverb, attack, decay, filter, etc. (figura 2).

Outra coisa muito legal que sempre uso é a ferramenta de groove que o Ableton disponibiliza (figura 3). Acho muito bacana, pois estimula a criatividade e tem várias coisas legais pra se usar.

Na parte de synths gosto muito do U-he Zebra, faço praticamente tudo nele, desde basslines até arps, é um synth muito fácil de lidar, além de ser bastante versátil. Indico a vocês o patch The Dark Knight, um banco de mais de 400 presets que surgiu de uma colaboração entre Hans Zimmer e Howard Scarr. É Foda!

Procuro sempre colocar meus subs no contra kick (figura 4), na minha opinião o “swing” fica bem legal, raramente faço alguma track com sub batendo junto com kick, geralmente nesse caso uso alguma ambiência mais grave pra preencher um pouco a parte low da faixa, sempre com side chain, claro.

Procuro sempre trabalhar bastante na parte da melodiam da faixa antes de “esticar” o arranjo, primeiramente escolhendo um timbre que me agrade, trabalho na síntese até chegar em algo que combine com o que até então eu já tenha feito. Depois trabalho na parte de volume das notas, uma a uma (figura 5), e também na parte de cutoff, release e sustain, com automações variando entre cada compasso (figura 6).

Em muitas faixas também utilizo toms ou kicks equalizados de forma que não atrapalhem outros elementos e que gerem mais groove na track, acho muito interessante e válido (figura 7).


Gostaria abordar mais a fundo como trabalho na linha de bateria, nessa track especificamente utilizei um pack de samples muito bacana que é o do Wehbba, qualidade e timbres excelentes, principalmente os hi-hats. Abaixo segue uma imagem das linha de hats:

Como vocês podem ver na imagem, nessa track, especificamente utilizei 4 hats diferentes.

O primeiro é o tradicional open hat. Uma linha normal no contra kick, como dizem por ai o famoso “chicote”. Nesse primeiro hat procuro deixar as freqüências médias mais presentes, justamente por ser o hat principal, costumo usar um low cut nas freqüências por volta de 1khz, dar uma atenuada por volta de 8khz e cortar também por volta de 17khz (figura 9), isso varia um pouco dependendo de proposta da track, sigo muito meus ouvidos, as imagens nos ajudam bastante, mas uma boa audição é fundamental e peça chave nesse processo de equalização/mixagem.

O segundo e o terceiro são hats variados, onde faço varias combinações e os equalizo de forma que não conflitem com outros hats. Geralmente deixo o volume deles um pouco mais alto, pois não são tão constantes. Uso um low cut nas frequências por volta de 3khz e corto também por volta de 18khz (figura 10).

O quarto é um closed hat continuo, um pouco mais baixo que da um preenchimento bem legal na linha de bateria. Geralmente corto igual ao segundo e terceiro e atenuo por volta de 11khz (figura 11).

Pro artigo não ficar tão longo, vou especificar nesse tópico os efeitos que geralmente uso na minha bateria. Gosto de usar o EQ nativo do Ableton pois de todos que testei ele é o que mantém o timbre mais “original”, sem dar aquela cor, assim consigo trabalhar melhor nos efeitos.

Em todos eu uso o PSP Vintage Warmer pra saturar e dar um brilho a mais, foi uma dica valiosa do produtor L_cio, utilizo o preset Mix finalize 3 e vou mudando de acordo com meu gosto, seja num grupo ou num canal individual (figura 12).

Na maioria das vezes utilizo reverb bem suave direto no canal, procuro deixar o dry/wet assim como o decay time bem baixos (figura 13), pois também uso reverb em canais de retorno. Com o reverb dos canais de retorno é que faço minhas automações (figura 14). Esse reverb deixo com um dry/wet e decay mais altos, justamente por causa da automação, é nela que tenho controle sobre quanto de reverb eu quero ou não em determinado momento, além claro de usar o EQ depois do reverb pra ficar a ação somente nos agudos. (figura 15)

Utilizo também nos canais de retorno um ping pong delay, quando sinto que falta preenchimento na bateria, ai vou aplicando nos canais de acordo com meu gosto. Deixo ele bem focado nos agudos e em média com dry/wet e feedback por volta de 20%. (figura 16)

Após isso junto todos os canais em um único grupo, e parto pra parte de compressão. As vezes uso compressão paralela, mas na maioria dos casos comprimo direto no canal do grupo todo. Gosto muito do SSL Comp da Waves, geralmente uso o preset SSL Center Classic Compressor e vou ajustando, gosto de usar um attack rápido com pouco release e ratio por volta de 2.

Sempre construo uma base bem sólida antes de começar a mexer no arranjo, procuro escolher e trabalhar bem todos os elementos pra depois não ter que ficar trocando muitas coisas, claro que uma vez ou outra sempre acabo tirando alguma coisa que sinto não estar no feeling da track, mas acho importante trabalhar muito bem antes de tudo. Tendo uma base sólida começo a esticar a faixa e adicionar efeitos, claps, pads, leads, noises etc. Pelo menos o meu workflow fica bem melhor dessa forma, espero que tenham gostado das dicas e por hoje é só.

Abaixo um pequeno trecho do loop, deixei um hat entrando a cada meio compasso só pra vocês terem uma pequena noção da função de cada um. Forte abraço e boas produções.

Force on the dance floor!

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