Fui convidado pelo Alex Justino para explicar um pouco sobre processo de composição da minha track, I Hate Your Smile – presente no mais recente VA da Nin92wo: Arquetipo lll – de uma maneira simples, objetiva e clara. Não é uma tarefa fácil resumir em poucas palavras um trabalho de horas de sessões de estúdio, mas tentarei:
A track era divida em duas partes. O primeiro trecho era formado por um trecho sampleado de Nagoya Marimbas do Steve Reich (compositor de vanguarda e um dos gigantes do minimalismo), com beats de uma Rolland 909, emulados por uma TR-8. Quando mostrei para o Justino, chegamos à conclusão que a música estava muito longa e que a segunda parte, que era a parte mais pesada – mais industrial, com uma linha de baixo mais ligada à bandas como Front 242, Skinny Puppy e outros gigantes da EBM e industrial, era a mai relevante. Conversando, concluímos que a primeira metade poderia ser tirada e apenas a segunda seria trabalhada para o VA.
Então, comecei lapidar o material. Fui editando, editando mais um pouco, dando mais dinâmica, diminuindo a sua extensão… tirando de um a dois minutos, enxugando ao máximo. Consegui, inclusive, inserir na mix, elementos do primeiro trecho dentro do segundo; não descaracterizando assim o material original.
A mixagem foi feita exclusivamente com headphones:
1) Beyerdynamic DT 990
2) Sony MDR 7506
3) AKG K240 MKII
A interface de audio utilizada foi uma Focusrite Scarlett 2i2 USB
Usei apenas plug-ins nativos, do Ableton 10:
Multiband Compressor
Snare Reverb
Sweep Overdrive
Ping Pong Delay (Pong)
Bit Warmer
Kick Processing.
No decorrer da faixa, usei apenas a TR-8 (com timbres de 909) como drum machine. Usei 3 timbres de kick, na marcação 4×4 – os 3 simultaneamente:
1) timbre clássico da 909
2) timbre clássico da 909, processado com kick Processing (priorizando o sub)
3) timbre clássico da 909, processado pelo bit warmer (priorizando o attack)
Passei o sinal dos três pelo Multiband Compressor, com as frequências graves -2db acima do flat e o master sempre batendo em -6db. Uma coisa curiosa é que no final da track são as texturas que usei: todas as camadas que criei foram feitas através de um microkorg e samplers de Discreet Music do Brian Eno. Eu distorci claro, manipulei o sample e transformei nas texturas.
O bassline foi composto e gravado com um próprio instrumento do Ableton chamado Colider. Não fiz muita manipulação na sonoridade, basicamente o efeito que tava lá, eu gosto muito daquele timbre, me lembra timbres dos clássicos da EBM – e como era essa a proposta da track, não tinha motivo algum para mudanças. Eu sempre priorizo a simplicidade, por mais irônico que isso possa soar.
Na parte final, além do kick principal, inseri mais dois, sendo que um está fazendo uma marcação como se fosse um pedal duplo e um outro kick bem “estalado”, trigado, na posição do contratempo, marcando junto com Side Chain. Então, ele dá uma função meio tribal no final da track…
Conclusão: Nesse texto preferi focar mais na parte dos plug-ins nativos e um pouco da história da track. Acho legal frisar que, às vezes usando apenas plug-ins nativos, você consegue um bom resultado. Sem comprometer o desempenho da máquina (processamento e etc).
Com idéias já estabelecidas e execuções simples, você consegue o resultado desejado. Creio que o mais importante sempre foi e é o foco na composição. Muito produtores gostam de compor a partir do plug-in. Nesse texto tentei mostrar o oposto.
Obrigado e desejo sucesso para todos.
Force on the danceflor.